terça-feira, 30 de novembro de 2010

ÚLTIMA SEMANA DE “AS VELHAS”

Espetáculo de Luiz Marfuz encerra temporada no Teatro Sesc-Senac Pelourinho com casa cheia. Na sexta acontece sessão dupla, às 17h e às 20h

O espetáculo As Velhas encerra temporada de estreia nesta semana, no Teatro Sesc- Senac Pelourinho. A montagem dirigida por Luiz Marfuz, a partir de texto da potiguar Lourdes Ramalho, segue até dia 4 de dezembro, com apresentações de 2 a 4 de dezembro (quinta a sábado), às 20 horas. Como vem atraindo um bom público, abre mais uma sessão na sexta-feira, dia 3 de dezembro, às 17h. A pauta extra foi criada depois das últimas apresentações - realizadas com platéia extra.

No cenário em tons vermelhos, criado por Rodrigo Frota, seis personagens vivem dramas passionais em meio à secura da terra, espremidos entre a impotência ou revolta para mudar a realidade. Cláudia Di Moura, Andréa Elia, Fernando Santana, Jussara Mathias, Anderson Dy Souza e Jefferson Oliveira, com figurinos de Miguel Carvalho e maquiagem de Marie Thauront, atuam neste drama com toques de bom humor.

Humor e tensão

“Saber rir nas situações mais dramáticas; aprendi isso fazendo Beckett. E há um detalhe importante no caso de As Velhas: o humor tira aquela sensação de piedade, ‘que coitadinhos!’, como se estivéssemos vendo um problema de cima e não participássemos dele”, posiciona-se Marfuz. Quando o humor atravessa as cenas, os momentos tensos e as paixões, o encenador pensa que é possível um nivelamento com os sentimentos e modos de pensar do espectador.
           
Diretor de Policarpo Quaresma, A Última Sessão de Teatro e Atire a Primeira Pedra, cada um em um gênero específico, Luiz Marfuz diz que já amadureceu o suficiente para colocar no palco aquilo que deseja: “Se eu quiser fazer referências contemporâneas numa peça histórica ou não-histórica, não é para agradar ao público, é porque eu considero que dá um sentido vivo à encenação e que, muitas vezes, é da iniciativa do próprio ator, o que eu acho maravilhoso”.

Os ingressos custam R$14 (inteira) e R$7 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas. O espetáculo foi selecionado pelo Edital Manoel Lopes Pontes de Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro - 2009, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secult – Secretaria de Cultura.
            

Serviço

 As Velhas – espetáculo teatral

O ajuste de contas entre uma cigana e uma velha nordestina, que rivalizam maridos e filhos, desencadeia uma trama de mistério, humor e paixão, em meio à beleza trágica do sertão.
 
Quando: 18 de novembro a 04 de dezembro, quinta a sábado. No dia 3 de dezembro, sexta-feira, acontece sessão dupla, às 17h e às 20h.
Local: Teatro SESC-SENAC Pelourinho
Ingresso: R$14 (inteira) e R$7 (meia)
  
ASSESSORIA DE IMPRENSA:
Claudia Pedreira – 71 8879-7994 


Texto da assessoria de imprensa do espetáculo

O SERTÃO NA PONTA DA LÍNGUA EM “AS VELHAS”


Foto Agnes Cajaiba do LABFOTO
Forma peculiar de falar é expressada no espetáculo com texto de Lourdes Ramalho e direção de Luiz Marfuz, que faz temporada no Sesc-Senac Pelourinho

Um bando perambula pelo sertão, tomando sopa de mandacaru ou comendo lagartixa assada. E falando coisas como “Me poco de rir”; “metido a cavalo do cão” e “língua de calango grande”. Eles são os seis personagens do espetáculo As Velhas, com texto de Lourdes Ramalho e direção de Luiz Marfuz, que cumpre temporada no Teatro Sesc-Senac Pelourinho. Os sertanejos são interpretados por Andrea Elia, Cláudia di Anderson Dy Souza, Andréa Elia, Cláudia Di Moura, Fernando Santana, Jefferson Oliveira, e Jussara Mathias.

“Soava muito estranho, no início dos ensaios, o ator-nordestino imitando sotaque de personagem paraibano ou potiguar”, avalia Marfuz, que junto com a preparadora de voz Meran Vargem, manteve em cena uma forma de falar própria, com neologismo e palavras não-usais. Mas tudo apropriado pela voz e corpo do ator que está contando, neste drama com nuances de comédia, a história de duas velhas que atravessam o sertão em busca de amores perdidos, em meio à secura da terra, espremidas entre a impotência ou revolta para mudar a realidade.

A temporada segue de quinta a sábado, até 4 de dezembro  (com exceção de 25 de novembro). Os ingressos custam R$14 (inteira) e R$7 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas. O espetáculo foi selecionado pelo Edital Manoel Lopes Pontes de Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro - 2009, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secult – Secretaria de Cultura.
           

SERVIÇO

 As Velhas – espetáculo teatral

O ajuste de contas entre uma cigana e uma velha nordestina, que rivalizam maridos e filhos, desencadeia uma trama de mistério, humor e paixão, em meio à beleza trágica do sertão.


Quando: 18 de novembro a 04 de dezembro, quinta a sábado – exceto quinta, dia 25
Local: Teatro SESC-SENAC Pelourinho
Ingresso: R$14 (inteira) e R$7 (meia)
  
ASSESSORIA DE IMPRENSA:
Claudia Pedreira – 71 8879-7994
Texto da assessoria de imprensa do espetáculo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Confira entrevista com Cláudia di Moura

Cláudia di Moura se apaixonou pelo texto de As Velhas e daí surgiu a ideia de montar o espetáculo. Ela vive a sofredora Mariana, que luta pelo marido, com outra mulher. É uma personagem massacrada pelo sistema moral. “Está tão dentro deste sistema conservador que acaba perdendo os filhos. Se vê envolvida em outra armadilha do destino. É uma grande perdedora”, sublinha a atriz premiada com o Braskem, por Policarpo Quaresma. Veja mais a seguir.


Como você se encantou com o texto de As Velhas?  
Eu fiz leitura de um texto de Maria de Lourdes Ramalho, Os mal amados, em 2003. O ator Urias Lima, ao me ver na leitura, disse que eu precisava conhecer o texto de As Velhas. Me falou que me via fazendo a personagem Mariana. Eu procurei, busquei, encontrei li e me encantei. Chamei a atriz Jussara Mathias, para a parceria. O projeto bateu de porta em porta. Nunca dava certo. Eu queria alguém que tivesse a ver com nosso pensamento artístico. Depois de Poliparpo Quaresma, conheci Cobrinha e fiz a proposta dele dirigir. Em 15 minutos tínhamos uma equipe técnica. Andréa Elia foi a última a entrar, junto com Fernando Santana. Cobrinha, depois, não pode fazer e a gente caiu nas mãos de Marfuz.
Qual a importância que o espetáculo tem para você?
As Velhas mexe muito comigo. É muito atual. Fala de justiça social. Marfuz traz este homem animalizado, dentro da concepção dele. Traz uma peregrinação silenciosa, pra dentro. 
Como é para você trabalhar com Luiz Marfuz?
Esta concepção vista por Marfuz, me alegra, pois traz o teatro de dentro para fora, de parto natural, com cor, no limite da gente. É um sonho de consumo de todos os artistas da cidade. E a alma fica encharcada de criatividade. Luiz não tem interrogação, não tem dúvidas. E ao mesmo tempo, ele é como os sábios, que abrem os ouvidos. Marfuz é um homem de vários ouvidos. Estar com este mestre, com quem trabalhei em Policarpo Quaresma, é uma honra mais vez.
É um desafio para você, como atriz premiada?
Estou entregue, assim como todos do elenco. Na verdade, Luiz é muito inquieto. Ele mergulha em Beckett, aí sobe com Policarpo e volta a mergulhar no sertão abissal, sertão interior, em As Velhas. No espetáculo, a gente fala de várias formes, do amor, da liberdade, da cura, são tantas as fomes, as misérias, o sertanejo visto pelo avesso. O texto, em relação ao original, tem outra cara. O enxerto traz o texto para outro lugar. Mariana, eu não posso dizer que é um desafio único, pois qualquer personagem é um desafio. Mariana é um sonho antigo.
Como é o duelo de Mariana com a cigana Vina, interpretada por Andréa Elia?
É um duelo manchado de rancor, de amargura, de paixão. Mariana nutriu tanto este terror dentro dela e depois se vê obrigada a estender a mão para a solidariedade. As Velhas é um texto que vai do desejo ao ódio, do político ao familiar, da seca ao amor incondicional pelos filhos. 

Entrevista concedida para a assessoria de comunicação do espetáculo

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espetáculo As Velhas é sucesso de crítica


Força interpretativa de atrizes garante a carga dramática do espetáculo As Velhas

Por Eduarda Uzêda (22/11/2010 A Tarde)

O espetáculo As Velhas tem entre seus maiores trunfos duas atrizes do primeiro time dos intérpretes baianos: Claudia di Moura e Andréa Elia. As duas defendem seus personagens com unhas e dentes, de maneira visceral, com tamanha paixão e intensidade – e, principalmente, humanidade–, que não tem como não se emocionar.

Claudia, como a sertaneja Mariana, acerta no tom seco, ríspido. Mulher/carcará, com coração de passarinho ferido pelo amor. Com seus guinchos, suas garras, seus olhos fundos e expressão sofrida, Claudia não é só Mariana, mas muitos outros arquétipos de mulheres que não se restrigem à geografia do sertão: a mãe zelosa, a mulher traída, a que vira as costas ao amor, a vingativa... Fortaleza e fragilidade.

E tem humor. Andréa Elia, como a cigana Ludovina, é cobra rastejante de veneno na língua, felino enjaulado, mas também a mulher sedutora.

É a que se revolta de ver tantos desmandos (roubos efetuados pelos políticos nas frentes de emergência), é a que se indigna contra o marido entrevado que lhe roubou os melhores anos, que tem a dor de amparar um morto vivo e que guarda a saudade da separação do seu povo. Olhar de grande expressividade.

O enfrentamento entre estas duas personagens fortes e tão dilaceradas é intenso e de alta carga dramática (a cena em que se esbofeteiam é muito bonita, tanto quanto a final) Jussara Mathias tem a doçura, meninice e malícia que seu personagem, Branca, exige: ela quer ser dona de seu destino, tanto quanto José (personagem de Anderson Dy Souza, que também se debate com conflitos interiores).

Fernando Santana sempre empresta vivacidade aos seus personagens. É uma qualidade do ator. Não é diferente com Chicó, filho da personagem Mariana.

Jefferson Oliveira, como mascate, liga os dois mundos e não decepciona.

Encenação 

Mas é Marfuz que faz a grande costura das cenas deste sertão simbólico, subjetivo, com corpos marcados pela geografia do lugar. Ele acerta em implodir este sertão estereotipado. Mais do que a seca, do que a fome, o drama humano dos personagens é o que mais conta.

Marfuz enriquece ainda o espetáculo com manifestação popular e máscaras, além de poesias e outras citações de autores brasileiros. E é ele quem imprime aos seus atores este casamento entre corpo e sentimento.

O cenário, de Rodrigo Frota, lembra uma espécie de curral todo em vermelho (assim como a iluminação e figurino). Curral onde vemos seres um tanto animalizados ruminarem suas dores e se esvairem .

AS VELHAS/ QUI A SÁB, 20H (EXCETO 25/11)/ ATÉ O DIA 4 DE DEZEMBRO/ TEATRO SESC SENAC , PELOURINHO (3324-4520) / PRAÇA JOSÉ DE ALENCAR, 19, LARGO DO PELOURINHO/ R$ 14 E R$ 7

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Entrevista com Leonel Henckes preparador corporal dos atores

Leonel Henckes

Explique um pouco sobre o seu trabalho durante a preparação corporal dos atores.

O trabalho realizado em “As Velhas” foi bastante especial para mim. Estar envolvido em todo o processo de criação do espetáculo acompanhando o magnífico trabalho de Luiz Marfuz, do elenco e de toda a maravilhosa equipe foi fascinante.
Quando Marfuz me chamou para ser preparador corporal do elenco dizendo crer que o trabalho que desenvolvo se encaixava no que ele estava buscando como encenador, fiquei muito feliz e ao mesmo tempo reticente pelo desafio que representava. Recebi o texto e Marfuz disse querer explorar um “corpo fora do lugar”, “um corpo transformado por uma geografia” e abordar um “sertão subjetivo”. Sugeriu ainda, que explorássemos animais e plantas, escolhidas por cada ator, no processo de criação.
De posse dessas informações e num diálogo constante com o diretor, comecei a conduzir os laboratórios de experimentação e direcionar o foco de atenção dos atores para sua corporeidade e as potencialidades expressivas dela. Por meio de procedimentos diversos, fui conduzindo-os a acessar alguns princípios, (atenção, ritmo, foco, fluxo, equilíbrio/desequilíbrio, segmentação das partes do corpo, elementos plásticos, qualidades de energia, etc) fui oferecendo uma caixa de ferramentas. Estas ferramentas convertiam-se em portais para a descoberta de registros de presença, formas corporais, movimentos, gestos e posturas. Esse direcionar o foco de atenção para si mesmo como corpo, dotado de uma memória e com possibilidades de ação e reação que explodem os limites do comportamento realista cotidiano abria espaço para que cada um buscasse em si o “corpo fora do lugar”, o “sertão subjetivo”.
A utilização de estímulos como animais e plantas foi muito importante neste trabalho uma vez que obrigava o deslocamento de uma lógica de ação humana social para uma forma de ação humana instintiva e animal. Os modos de andar, a energia de cada personagem, seu comportamento, suas ações, tudo saiu dessas matrizes.
Além disso, Marfuz criou espaço para que o material vindo dos laboratórios de experimentação corporal fossem pontos de partida para as improvisações e marcação das cenas. Isso fez com que a criação viesse do ator/atriz no caminho mais tangível possível, ou seja, de sua fisicalidade. Nesse sentido, havia uma preocupação em estimulá-los a pensar fisicamente em ação com movimentos conectados com impulsos internos. A consciência de que os movimentos não poderiam ser periféricos e de que o trabalho exigia um envolvimento integral do corpo. A ordem era o excesso, o exagero, o desperdício de energia para depois, sim, dosar e lapidar na cena.
Assim, durante o trabalho, levei elementos de arte marcial, yoga, kalaripayattu, capoeira, os exercícios plásticos desenvolvidos no Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski, princípios de mímica corporal dramática, exercícios da antropologia teatral, exercícios inventados por mim. A ideia era levar eles a trazerem coisas do seu repertório também. Eu acredito que cada corpo é uma linguagem hibrida que traz muitas referências. Fazer o ator olhar-se como corpo e capitanear seu processo numa auto-pesquisa de criação de personagem, de ação, via corpo acaba gerando um percurso criativo mais rico e vivo.
Meu trabalho, portanto, foi mais de guiar os atores em uma experiência corporal a partir do acesso ao repertório de cada um para, a partir dessas singularidades, construir um “corpo fora do lugar” e plasmar um “sertão subjetivo”. Pensar o corpo que é o ator. Esta totalidade psicofísica em diálogo com o espaço, com uma geografia, com experiências passadas e futuras, com suas vivências na arte.
Houve, também, uma adaptação para a realidade heterogênea do elenco. Em suas diferenças de idade, estilo, dificuldades, bloqueios físicos e psíquicos. Assim, fui buscando acessar cada um e conduzi-los à uma experiência intensa, pulsante, viva.
Minha preocupação sempre esteve em criar não apenas um corpo fora do lugar, como queria o diretor, mas, um corpo fora do lugar que estivesse sustentado por uma pulsação interna. Um fluxo energético, uma conexão com impulsos reais da vida orgânica. Que fugissem dos clichês de atuação na cena e na vida.
Outra preocupação também era fazer o trânsito entre uma corporeidade cotidiana e uma corporeidade estilizada. Fazer esse trânsito sem perder a conexão com uma atenção dilatada, dinâmica e em fluxo. Fazer essa mudança de modo funcional era um desafio e passava pela capacidade de produção de sentido de cada ator e a capacidade de se entregar ao processo e acreditar no que está fazendo por mais estranho que seja. Tudo isso é fundamental que ocorra de maneira integrada com a participação constante do diretor e com a disponibilidade e generosidade do elenco e acho que no caso de “As Velhas” a genialidade e experiência de Marfuz foram fundamentais, além, é claro do talento e experiência do elenco tendo em vista o pouco tempo no qual o processo foi desenvolvido.

Quais referências utilizou para incorporar os movimentos corporais nas cenas?

Como eu disse anteriormente, o processo de trânsito, do treinamento para a cena se deu num diálogo com o encenador. Eu acho que existem duas instâncias do processo. Um é o dos laboratórios experimentais onde ocorre a afinação dos atores/atrizes e o levantamento de materiais que podem se transformar em ação física. Figuras abertas, vazadas, com registros de presença e energia que pudessem ser direcionados para a proposta da cena. Ademais, o trabalho estava focado na aquisição de um estado de atenção, prontidão e para uma qualidade de precisão. E, nesse sentido, os exercícios eram direcionados para as referências da montagem, ou seja, pesquisar o corpo atentando para as relações entre personagens, intenções e situações do texto. Marfuz conduziu um processo bastante “rizomático” nesse sentido, o trabalho de corpo, de voz, a leitura do texto e mesmo a marcação de cenas se deu quase simultaneamente numa rede de interferências inevitável e produtiva.
O que eu fazia nos laboratórios, era conduzir um percurso de auto-pesquisa para a criação de um repertório. Também, exercitar a improvisação, a criação e a ação pela via do corpo mais do que pela via dos diálogos apenas e da interpretação realista. Quando eles iam para o processo de improvisação e marcação, eles estavam condicionados em um pensamento-ação psicofísico e não apenas interpretativo. Esses elementos foram levados para a cena e lapidados. O trabalho foi bastante colaborativo nesse sentido. Eu acho que o trânsito do treinamento para a cena vai se dando muito no momento em que ocorre uma produção de sentido que vai ao encontro do texto, da proposta do encenador e do que cada ator está buscando. É essa produção de sentido que gera situação, cena, personagem. As figuras, movimentos, gestos começam a se delinear como estrutura cênica e ação física.
De outro modo, a cena também fazia surgir demandas corpóreas que precisavam ser exploradas, então, tudo foi uma via múltiplas mãos. No final, ainda contamos com a contribuição de Mariusa que deu um tratamento coreográfico em algumas cenas.
O que me deixa feliz no processo é ver que a criação se deu via corpo e por isso mesmo, via cada ator no sentido mais amplo que isso possa ter e, por isso, cada gesto, cada micro-movimento trás consigo uma carga que vem de camadas mais sutis e já nasceu com um conteúdo, com uma energia, com uma “intensão” e não como forma no espaço apenas.

Quais técnicas utilizou para aplicar a forma de andar e de expressar corporalmente as características dos sertanejos nos atores?

A busca não foi por características sertanejas estereotipadas, a busca era por um “corpo fora do lugar” e um corpo “transformado por uma geografia”. O movimento foi, portanto, o de acessar o sertão de cada um pela via tangível da nossa vida, ou seja, o corpo. Assim, como vejo o sertão, que sertão está registrado na minha memória corporal? Que impulsos meu corpo gera ao me conectar com este universo?  O que eu fiz foi potencializar o trabalho de criação via corpo e experimentar registros de presença e energia diversos. Abrir, também, os canais expressivos e o acesso ao manancial simbólico e referencial de cada ator em relação ao universo sertanejo.
Nesse sentido, meu trabalho está centrado na ativação de dois centros energéticos, o centro pélvico e o plexo solar bem como o acesso à uma qualidade de atenção dilatada e em fluxo. Busco, ainda, uma prontidão e precisão na percepção dos impulsos internos e sua manifestação em ação corporificada. Dentro disto, foram inúmeras as estratégias buscadas atentando a singularidade de cada ator/atriz e sem excluir as referências que cada um já trazia, ao invés de negá-los, potencializamos. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A grande estreia do espetáculo As Velhas



Na estreia do espetáculo cada detalhe revelou o trabalho de toda a equipe e tudo isso resultou em um lindo e emocionante espetáculo. Em cada cena, em cada fala, luz, som...ficou perceptível a atuação da equipe que estava nos bastidores e contribuiram para o resultado da apresentação. Luiz Marfuz como sempre, conduziu com maestria a direção dos atores e conseguiu extrair deles o que de mais sertanejo e sublime estava relatado no texto de Lourdes Ramalho. O público aplaudiu de pé e por alguns longos minutos a apresentação que emocionou e ao mesmo tempo fez rir a plateia.

O espetáculo fica em cartaz até 4/12 (com exceção do dia 25 de novembro), sempre de quinta a sábado, às 20h. Os ingressos custam R$14 (inteira) e R$7 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas.

Em breve fotos da estreia, aguardem!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Hoje estreia o espetáculo As Velhas

Chegou o grande dia! Hoje às 20h, no teatro SESC-SENAC, estreia o espetáculo As Velhas, com texto de Lourdes Ramalho, direção e adaptação de Luiz Marfuz (Policarpo Quaresma e A Última Sessão de Teatroe com um elenco magnífico composto por Cláudia di Moura - Mariana / Fernando Santana - Chicó e Tonho / Jussara Mathias - Branca/ Andrea  Elia - Vina / Anderson dy Souza - José e Jefferson Oliveira - Tomás. 


A temporada segue de quinta a sábado, até 4 de dezembro  (com exceção de 25 de novembro). Os ingressos custam R$14 (inteira) e R$7 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas. O espetáculo foi selecionado pelo Edital Manoel Lopes Pontes de Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro - 2009, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secult – Secretaria de Cultura.


Além dos atores existe uma equipe nos bastidores que ajusta todos os detalhes para que o espetáculo seja apresentado e recepcionado pelo público da melhor forma possível, o cenário ficou com o Rodrigo Frota, o figurino é de Miguel Carvalho, a direção musical de André Simões, a maquiagem de Marie Thauront, a iluminação é de Luiz Renato, a preparação corporal ficou por conta de Leonel Henckes, a preparação vocal é de Meran Vargens e a preparação para canto de Marcelo Jardim.
            

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Amanhã estreia o espetáculo "As Velhas"

Estamos em contagem regressiva para a estreia do espetáculo "As Velhas", amanhã, 18/11, no teatro SESC/SENAC Pelourinho, às 20h. Para entender parte da trama, vale a pena ler o texto da assessora de impressa que relata um dos principais conflitos da história, a relação entre as mães Mariana (Cláudia Di Moura) e Ludovina (Andrea Elia).


Duelo de atrizes

 
Ao fundo Mariana, em primeiro plano Ludovina
Foto: Adenor Godim
Na trama, Mariana é uma mulher massacrada pela moral. “Ela é tão calcificada pelo sistema conservador que acaba se arriscando a também ficar sem os filhos. Então esta grande perdedora se vê envolvida em mais uma armadinha”, diz a intérprete da personagem, Cláudia Di Moura (Braskem de melhor atriz por Policarpo Quaresma). A artista conta que teve um primeiro contato com a dramaturgia de Lourdes Ramalho em 2003, quando fez a leitura de um texto da escritora.
 
“Ao me assistir na leitura, o ator Urias Lima me disse que eu precisava conhecer As Velhas, que eu deveria fazer esta mãe que perde muito da vida”. Quando leu o texto, Cláudia ficou muito mexida, por considerar que ele era atual, na sua abordagem da justiça social e de dramas pessoais. “E Marfuz pega este texto e mostra este homem animalizado, dentro da concepção dele, com uma peregrinação silenciosa, para dentro”, avalia.  
 
A atriz Andrea Elia (de Caso sério) foi arrebatada já na primeira leitura da obra, percebendo a sua personagem, a cigana Ludovina (Vina), como parte de um universo bem definido, com profundo lastro psicológico e que, tendo o corpo aleijado, aguça sentidos para sobreviver. “A história se passa no sertão, mas emana o interno dos personagens e o olhar de Marfuz para o ator instiga a construção da cena”, analisa.
 
Foto: Adenor Godim
A intérprete narra que o diretor convidou a equipe a conhecer mais o sertão, a assistir filmes relacionados ao drama do retirante, a ganhar intimidade com obras como a de Garcia Lorca. “É um momento muito rico quando um diretor abre canais”, considera Andrea. “Se tem um gesto, um olhar, de um ator, Marfuz está olhando”, diz, pela primeira vez junto com o encenador em um espetáculo teatral.
 
O diretor Luiz Marfuz enxerga o teatro como uma arte do diálogo dentro e fora do palco e vê o processo de trabalho como coletivo, com atores, técnicos, criadores, equipe, espectadores: “Hoje se questiona bastante e idéia do diretor sabe-tudo que vem com a concepção pronta e os atores apenas executam. Este nosso processo é um vaivém entre pensar e fazer, construir e destruir, morrer e renascer”. 






Assessoria de impressa do espetáculo

terça-feira, 16 de novembro de 2010

“AS VELHAS” E O DIABO - SOLTOS NO REDEMOINHO

Com texto de Lourdes Ramalho e direção de Luiz Marfuz, espetáculo cruza as dimensões pessoal e político-social. Estreia dia 18, quinta, no Sesc-Senac Pelourinho

 
 No espetáculo As Velhas, seis personagens vivem dramas passionais em meio à secura da terra, espremidos entre a impotência ou revolta para mudar a realidade. A montagem dirigida por Luiz Marfuz tem como inspiração texto da potiguar Lourdes Ramalho, escrito em 1975. Cláudia Di Moura, Andréa Elia, Fernando Santana, Jussara Mathias, Anderson Dy Souza e Jefferson Oliveira atuam neste drama com nuances de comicidade, que estreia às 20 horas do dia 18 de novembro (quinta-feira), no Teatro Sesc-Senac Pelourinho.

A temporada segue de quinta a sábado, até 4 de dezembro  (com exceção de 25 de novembro). Os ingressos custam R$14 (inteira) e R$7 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas. O espetáculo foi selecionado pelo Edital Manoel Lopes Pontes de Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro - 2009, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secult – Secretaria de Cultura.

Luiz Marfuz (Policarpo Quaresma e A Última Sessão de Teatro) explica que As Velhas trata de questões universais como amor, ciúme, vingança e poder. Questões que, embora persistam, “são vistas sob outros ângulos, a exemplo da virgindade, das frentes de emergência, da indústria da seca”. Para o encenador, o espetáculo se diferencia de outras montagens com temática sertaneja, por abordar o subjetivo, refletido no corpo sertanejo.

Os atores lidam com elementos culturais nordestinos, conflitos cordelescos e expressões regionalistas. “Fizemos pesquisas físicas, improvisações e construção de partituras vocais e corporais para construir o sertão de cada um”, detalha o diretor, dizendo que o espetáculo aborda a questão agrária, sem que coronéis, mandantes, governantes e poderosos da economia e da política surjam explícitos ou de forma maniqueísta.

Para enfatizar o intimismo, a montagem procurar sintonizar a respiração do espectador com a dos personagens, utilizando, para isto, uma estrutura cenográfica em formato de semi-arena, criada pelo cenógrafo Rodrigo Frota.

 Assessoria de impressa do espetáculo

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Entrevista com Andréa Elia - Personagem Ludovina

Andréa Elia interpretando Ludovina (Vina)
mãe de José
Foto: Adenor Godim
Entrevista com a atriz Andréa Elia que interpreta Ludovina, a "língua de calango grande" que fala o que vem à mente e superprotege o filho José.

Como surgiu o convite para atuar no espetáculo?


O convite surgiu do ator Hilton Cobra, profissional que admiro muito e que foi o responsável pelo meu ingresso neste projeto. No início ele assinaria a direção e a escolha por mim para interpretar Vina foi um desejo dele. O seu chamado foi perseverante e hoje sinto-me agraciada.

Como você recebeu a personagem e quais referências utilizou para a construção?

Recebi a personagem com sede de construí-la e também uma saudável inquietação. O fascínio veio do seu mistério e intuição. Ela é uma cigana e utilizei muito o imaginário para internalizar as heranças que ela guarda desta tradição. O matriarcado presente na obra foi também marcante e o extremo amor pelo filho.

Fale um pouco sobre o personagem e sobre o que ele representa para a sociedade atual.

A personagem luta por direitos em uma terra sem lei, ela não desarma nunca, utiliza a força que tem para resistir e lutar. Sua arma é a palavra. Uma espécie de arauto das falcatruas e robalheiras da classe dominante. Ela é uma mulher forte que luta pela sua terra e pela dignidade de vida de seu povo. Uma personagem bem presente na sociedade atual, num momento em que o país vivenciará uma presidência regida por uma mulher.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Entrevista com Anderson Dy Souza - Personagem José

José à esquerda e Tomaz Mascate à direita
Como surgiu o convite para o elenco do espetáculo As Velhas?

O convite surgiu da atriz Claudia Di Moura nos bastidores do espetáculo Policarpo Quaresma, onde nos conhecemos.

Como você recebeu a personagem e quais referências utilizou para a construção?

A indicação do personagem surgiu da própria Cláudia ao fazer o convite, de imediato achei interessante o conflito do personagem dividido entre o amor e a obrigação. Para a construção minha maior referência foram os galináceos, por mais que o censo comum seja de que estes animais conotem covardia, encontrei neles uma força dissociada da agressividade.

Fale um pouco sobre o personagem e sobre o que ele representa para a sociedade atual.

José é representante da nova geração que já não se preocupa com as velhas convenções sociais e, livre das mesmas, luta por um ambiente justo e igualitário.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Material de divulgação do espetáculo "As Velhas"

Esse é o material de divulgação do espetáculo "As Velhas", a criação foi de Susan Kalik, da Kalik Produções Artísticas e foi muito elogiada por toda a equipe. Aproveite e divulgue também, envie para seus amigos e convide todos para contemplar a temporada do espetáculo que ocorre de 18/11 a 04/12, de quinta a sábado, às 20h, no teatro SESC-SENAC Pelourinho.




terça-feira, 9 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Entrevista com Luiz Marfuz sobre "As Velhas"

Imagens do acervo pessoal de Luiz Marfuz

Luiz Marfuz é doutor em Artes Cênicas e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA. Arte-educador, tem no currículo a direção de vários espetáculo, entre eles: “Comédia do Fim” (2003) – Troféu Espetáculo do Ano e “Só” (2002) - ambos com textos de Samuel Beckett, “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht (1998), “Cuida Bem de Mim” (1996), co-autor com Filinto Coelho. Marfuz é o diretor do espetáculo “Policarpo Quaresma”, baseado no romance de Lima Barreto, e do espetáculo "As Velhas", criado a partir do texto de Lourdes Ramalho.

A jornalista Claudia Pedreira é assessora de imprensa para o espetáculo “As Velhas” e fez uma entrevista com Luiz Marfuz, diretor do espetáculo, onde aborda questões sobre o processo de construção do espetáculo, partindo do texto até o trabalho com os atores. Questões como política de editais e sobre a estética da temática sertaneja. 

Claudia Pedreira - A versão do texto clássico As Velhas, de Lourdes Ramalho, que você apresenta tem o que de recriação em relação ao original? Os atores inseriram algum improviso ou contribuição própria?

Luiz Marfuz - O texto original trata de questões universais como amor, ciúme, vingança, poder e outras que, embora ainda persistam, hoje são vistas sob outros ângulos, a exemplo da virgindade, das frentes de emergência, da indústria da seca. Além disso, o texto traz o linguajar típico do falar nordestino; o que naquela época (1975), era considerado uma novidade e uma tentativa de inserção de uma “língua” ausente dos palcos brasileiros. Hoje a televisão explora isto ao limite, banalizando esta descoberta. Então fiz uma opção, deixando os atores falarem como eles são: nordestinos baianos. Soava muito estranho, no início dos ensaios, o ator-nordestino imitando sotaque de personagem paraibano ou potiguar. É claro que há uma forma de falar, uma sintaxe própria, com neologismo e palavras não-usais que estarão ali em cena, mas apropriado pela voz e corpo do ator que está contando aquela história de duas velhas que atravessam o sertão em busca de amores perdidos. Para isso, fizemos pesquisas físicas, improvisações e construção de partituras vocais e corporais para construir o sertão de cada um. E a contribuição dos atores é decisiva neste processo.

CP - Como se dá a transposição da obra para o palco do SESC-Pelourinho?

LM - Queremos uma aproximação com o público, como se o espectador respirasse junto com os atores, sem que necessariamente contracene com eles. Por isso, vamos instalar uma estrutura cenográfica no Teatro Sesc-Senac Pelourinho, em formato de semi-arena, que Rodrigo Frota, o cenógrafo, está idealizando e construindo.

CP - Você comenta que busca o sertão subjetivo com “As Velhas”. Explique sua frase, por favor.

LM - Eu falei isso num contato com os atores para apontar uma das possibilidades de leitura do texto. A peça de Lourdes Ramalho cruza a dimensão político-social com a dimensão pessoal, mas dá relevância a esta última, sem esquecer a primeira. Explico: Os “vilões” estão fora de cena: não há coronéis, mandantes, governantes, nem qualquer outro representante dos poder econômico ou político que apareça de forma explícita no texto.
Falam-se deles, mas eles não aparecem. Para mim foi uma pista. Olhar para o sertão que se inculca no espírito das pessoas, que sofrem a ação dos inimigos que não são mostrados.
Aí eu imaginei que o corpo e as emoções dos atores deveriam caminhar por uma estrada subjetiva como se buscássemos responder, numa multiplicidade de pontos de vista, à seguinte pergunta: O que tantos anos de desmando e descaso no sertão fizeram com o corpo e coração do sertanejo? E aí passamos a olhar o sertão pelos olhos desses seis personagens, que vivem seus dramas passionais em meio à secura da terra, espremidos entre a impotência ou revolta para mudar a realidade.



CP -  Você já realizou espetáculos tragicômicos, como “Atire a primeira pedra”. “As velhas” parece ter a sutileza do humor, mesmo em momentos dramáticos. Concorda?

LM - É verdade, mas a raiz desta mistura já está no texto. Apenas acentuei este traço na encenação: saber rir nas situações mais dramáticas; aprendi isso fazendo Beckett. E há um detalhe importante no caso de “As Velhas”: o humor tira aquela sensação de piedade, “que coitadinhos!”, como se estivéssemos vendo um problema de cima e não participássemos dele. Quando o humor atravessa as cenas, os momentos tensos e as paixões, eu penso que é possível um nivelamento com os nossos próprios sentimentos e modos de pensar. Ou seja, o riso é tão demolidor quanto a tragédia; e universal para qualquer um de nós, no sertão ou nas geleiras.

CP - Como aconteceu a escolha do elenco? Quais critérios foram utilizados na seleção feminina e masculina? “As Velhas” é um trabalho fincado no ator?

LM - O elenco já estava formado, três atores e três atrizes (Andréa Elia, Cláudia di Moura, Jussara Mathias, Anderson Dy Souza, Jefferson Oliveira, Fernando Santana). Fiz uma pequena troca de papéis, nada mais do que isso. O trabalho é realmente centrado no ator, em suas possibilidades vocais e corporais, na capacidade de construir um corpo, que fica, muitas vezes fora do lugar, como identificado com a terra, os animais as plantas, os obstáculos. Isto tudo faz com que, em alguns momentos, o corpo assuma uma postura não usual, marcada pelo contato com a adversidade, mas também com a beleza trágica. É um caminho pelas ações físicas, que já vem desde Stanislavski, Grotowski, Barba, Lecoq, Decroux, mas que está em todo lugar.

CP - A concepção de seu trabalho é baseada no diálogo. De que maneira este estilo de trabalho influencia “As Velhas”?

LM - O teatro é a arte do diálogo dentro e fora do palco. Encaro o processo de trabalho de forma coletiva, com atores, técnicos, criadores, equipe, espectadores. É um processo contínuo de construção. Hoje se questiona bastante e ideia do diretor sabe-tudo que vem com a concepção pronta e os atores apenas executam. Este nosso processo é um vaivém entre pensar e fazer, construir e destruir, morrer e renascer. Por isso gosto de abrir os ensaios para equipe logo nos primeiros dias. O olhar de fora vem e contribui também em plena ebulição do fazer. Isto não quer dizer que o diretor seja apenas um mero mediador; ele deve ter propostas, saber explorar as potencialidades do ator, dialogar com suas qualidades e dificuldades para manter o rumo da encenação.

CP -  Pretende pontuar a trilha sonora com referências de sua memória musical? O que leva em conta no momento de inserir a trilha e os ruídos?

LM - A trilha está sendo feita pelo músico Deco Simões, com quem já trabalhei uma vez. É construída a partir das sugestões dele e da sua presença nos ensaios para perceber a atmosfera, a partitura de cada cena, o desenho da ação. Ele havia sugerido o uso de sons extraídos de objetos em cena como ponto de partida e a isto se juntou uma trilha original composta para dialogar, às vezes contrapor, os climas da encenação. É uma trilha que aproxima a temática do sertão de um mosaico musical contemporâneo.

CP - Fale, por favor, da escolha dos figurinos, adereços, cenários, iluminação e da busca por uma estética particular no universo da temática sertaneja.

LM -  Cada área desta é conduzida por um profissional: Miguel Carvalho nos figurinos, Rodrigo Frota em cenário e adereços, Marie Thauront na maquiagem e Luiz Renato na iluminação.
As propostas de cada um integram o campo de diálogo da encenação. O melhor é que eles estão presentes nos ensaios e interagem entre si e comigo, buscando uma interação entre os elementos. O que une todos eles é a ideia de que não queremos reproduzir um sertão naturalista no palco. O universo simbólico é que dá o tom nas diversas camadas da encenação: o espaço mítico, o plano da concretude e a realização visual do imaginário das personagens.

CP - Sua trajetória é pontuada por reconhecimento. Em 2009, “Policarpo Quaresma” recebeu 5 premiações no Braskem. E, 2010 “A última sessão de teatro” teve quatro indicações. O que significam prêmios para sua carreira?

LM -  Os prêmios são estímulos, da mesma forma que a recepção do público, entendendo aí as amplas possibilidades críticas da recepção; ou seja, quer ele goste, quer não goste do que vê. É que nossa arte é tão efêmera, que uma palavra dita no palco, o desenho de um gesto, o sopro da respiração do ator se dissolvem no tempo. Então, prêmios, críticas, retornos e quaisquer outras formas de registro e memória nos aliviam da sensação de efemeridade e faz a obra permanecer por mais tempo no mundo.

CP - Além de dirigir, você também escreve. Como define sua dramaturgia.

LM -  É engraçado que eu encontro as pessoas e em geral, elas se espantam:  
“Ah, agora você também está escrevendo!”. Na verdade, eu comecei a fazer teatro, atuando e escrevendo peças. Depois é que abracei a direção e não mais larguei. Mas sempre tive um pé na dramaturgia, mesmo enquanto diretor. Quando monto um texto, dramatúrgico ou literário, sempre faço adaptações cênicas, promovo interlocuções com ele. É o que Peter Brook chama de “dialética do respeito e do desrespeito ao texto”. Quando fiz “Policarpo Quaresma”, chamei Marcos Barbosa para fazer a adaptação. Depois da peça pronta, que é um belo trabalho deste dramaturgo primoroso, iniciei o processo de encenação, que, naturalmente, por conta de meu método, promoveu alguns diálogos com o texto adaptado.
Aí, certa feita, ele me disse; por que você não escreve seus próprios textos? Foi como se ele tivesse me dado um recado mais ou menos assim: “Por que ao invés de ficar metendo a mão no texto dos outros, você não faz logo o seu?”. No ano seguinte propus a Harildo escrever e dirigir “A última sessão de teatro”. Em homenagem aos seus 70 anos de vida deste grande ator. E aí retomei meu gosto pela dramaturgia. Agora, acabei de ser contemplado no Edital da Funceb – Prêmio Estímulo à criação dramatúrgica, que é uma excelente iniciativa: incentivar autores emergentes ou não a escrever seus textos e depois fazer uma leitura dramática, incentivando-os a encená-los depois. Fiquei feliz em ter sido escolhido com a proposta de “Senhora dos infiéis”, principalmente porque a escolha é feita por uma comissão que lê os projetos sem saber quem são os autores. E quanto à linha da dramaturgia, para mim, é uma construção. Tenho me interessado ultimamente por temáticas brasileiras rurais, urbanas ou históricas, que colocam no palco a crise da representação.

CP -  Quais as maiores dificuldades de se fazer teatro na Bahia?

LM -  Sempre foram muitas, mas a maior delas é o artista sobreviver de teatro. Poucos conseguem, e aqueles que o fazem, na maioria, não vivem das peças que encenam e sim de outras atividades teatrais que têm um campo mais aberto e ao mesmo tempo mais seguro de retorno: ensino, oficina, cursos, teatro-empresa, televisão, publicidade. Mas isso não quer dizer que tenham uma vida segura. Ninguém está seguro de nada hoje em dia.
Tudo é feito com muita dificuldade. Para se ter uma ideia, a profissão de ator no Brasil
foi regulamentada em 1978, mas se você procurar saber quantos assinam carteira, têm
seguro desemprego, plano de saúde, aposentadoria ou FGTS, vai se assustar. Talvez não chegue a cinco. É uma lei que precisa de uma política pública para se fazer cumprir, pelo menos no que se refere às instâncias de governo, como é caso da aposentadoria.



CP -   Acredita na política de editais?

LM -  Os editais têm a grande vantagem de democratizar o acesso e transferir a cada edição a escolha dos projetos para uma comissão de artistas e especialistas. Ou seja, o Estado disponibiliza os recursos, mas quem escolhe são outras pessoas. Isto favorece o não-intervencionismo estatal; ao mesmo tempo a própria burocracia estatal cria obstáculos para que a iniciativa dê certo no prazo a que se propõe. Quando alguém inscreve um projeto, há todo um planejamento que envolve cumprimento de pauta, compromisso de elenco, entre outras coisas. Mas, e muitas vezes, a saída do recurso é demorada e faz com que aquele projeto inicial tenha que ser revisto porque os artistas e técnicos originalmente convidados já tomaram outros rumos em sua vida profissional. O mercado de instabilidade no qual estamos inseridos é muito cruel.

CP - “Toda generalização é perversa”; Sua versão de “Toda unanimidade é burra”, de Nelson, Rodrigues tem uma pitada a mais.

LM -  Se você se refere a o espetáculo “Atire a primeira pedra, eu diria que sim”, porque quis fazer um Nelson – a partir das crônicas de “A vida como ela é” – de uma forma escrachada, utilizando recursos considerados de “segunda mão” por alguns críticos e artistas, como a chanchada, os filmes B, o cinema trash, a chamada música brega brasileira e por aí vai. O espetáculo em geral agradou. Já está entrando em seu terceiro ano, fazendo agora uma temporada no interior, prometendo voltar em 2011. Mas nem todos gostaram. Alguns o tacharam de besteirol – como se fosse um desqualificativo, porque para mim não é. A Cia. Baiana de Patifaria sempre fez besteirol com naipe de atores de primeira linha ao longo de seus mais de vinte anos de carreira e que muito nos orgulha; ela mantém a tradição dos espetáculos que privilegiam a cena e o virtuosismo do ator. Às vezes, aqui se tem uma visão provinciana e, ao mesmo tempo, sub-colonialista na apreciação das peças locais. Por exemplo, quando um grupo de São Paulo ou Rio monta um clássico e faz inserções de referências contemporâneas ou dão uma cor própria, brasileira, faz citações a maioria diz “Oh, que genial!" Mas quando nós o fazemos, é comum se ouvir: “Pra que isso. A peça acabou virando um besteirol”. E aí tome-lhe mais preconceito. Eu já amadureci o suficiente para colocar no palco aquilo que desejo; se eu quiser fazer referências contemporâneas numa peça histórica ou não-histórica, não é para agradar ao público, é que porque eu considero que dá um sentido vivo à encenação e que, muitas vezes, é da iniciativa do próprio ator, o que eu acho maravilhoso.