quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espetáculo As Velhas é sucesso de crítica


Força interpretativa de atrizes garante a carga dramática do espetáculo As Velhas

Por Eduarda Uzêda (22/11/2010 A Tarde)

O espetáculo As Velhas tem entre seus maiores trunfos duas atrizes do primeiro time dos intérpretes baianos: Claudia di Moura e Andréa Elia. As duas defendem seus personagens com unhas e dentes, de maneira visceral, com tamanha paixão e intensidade – e, principalmente, humanidade–, que não tem como não se emocionar.

Claudia, como a sertaneja Mariana, acerta no tom seco, ríspido. Mulher/carcará, com coração de passarinho ferido pelo amor. Com seus guinchos, suas garras, seus olhos fundos e expressão sofrida, Claudia não é só Mariana, mas muitos outros arquétipos de mulheres que não se restrigem à geografia do sertão: a mãe zelosa, a mulher traída, a que vira as costas ao amor, a vingativa... Fortaleza e fragilidade.

E tem humor. Andréa Elia, como a cigana Ludovina, é cobra rastejante de veneno na língua, felino enjaulado, mas também a mulher sedutora.

É a que se revolta de ver tantos desmandos (roubos efetuados pelos políticos nas frentes de emergência), é a que se indigna contra o marido entrevado que lhe roubou os melhores anos, que tem a dor de amparar um morto vivo e que guarda a saudade da separação do seu povo. Olhar de grande expressividade.

O enfrentamento entre estas duas personagens fortes e tão dilaceradas é intenso e de alta carga dramática (a cena em que se esbofeteiam é muito bonita, tanto quanto a final) Jussara Mathias tem a doçura, meninice e malícia que seu personagem, Branca, exige: ela quer ser dona de seu destino, tanto quanto José (personagem de Anderson Dy Souza, que também se debate com conflitos interiores).

Fernando Santana sempre empresta vivacidade aos seus personagens. É uma qualidade do ator. Não é diferente com Chicó, filho da personagem Mariana.

Jefferson Oliveira, como mascate, liga os dois mundos e não decepciona.

Encenação 

Mas é Marfuz que faz a grande costura das cenas deste sertão simbólico, subjetivo, com corpos marcados pela geografia do lugar. Ele acerta em implodir este sertão estereotipado. Mais do que a seca, do que a fome, o drama humano dos personagens é o que mais conta.

Marfuz enriquece ainda o espetáculo com manifestação popular e máscaras, além de poesias e outras citações de autores brasileiros. E é ele quem imprime aos seus atores este casamento entre corpo e sentimento.

O cenário, de Rodrigo Frota, lembra uma espécie de curral todo em vermelho (assim como a iluminação e figurino). Curral onde vemos seres um tanto animalizados ruminarem suas dores e se esvairem .

AS VELHAS/ QUI A SÁB, 20H (EXCETO 25/11)/ ATÉ O DIA 4 DE DEZEMBRO/ TEATRO SESC SENAC , PELOURINHO (3324-4520) / PRAÇA JOSÉ DE ALENCAR, 19, LARGO DO PELOURINHO/ R$ 14 E R$ 7

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