sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Confira entrevista com Cláudia di Moura

Cláudia di Moura se apaixonou pelo texto de As Velhas e daí surgiu a ideia de montar o espetáculo. Ela vive a sofredora Mariana, que luta pelo marido, com outra mulher. É uma personagem massacrada pelo sistema moral. “Está tão dentro deste sistema conservador que acaba perdendo os filhos. Se vê envolvida em outra armadilha do destino. É uma grande perdedora”, sublinha a atriz premiada com o Braskem, por Policarpo Quaresma. Veja mais a seguir.


Como você se encantou com o texto de As Velhas?  
Eu fiz leitura de um texto de Maria de Lourdes Ramalho, Os mal amados, em 2003. O ator Urias Lima, ao me ver na leitura, disse que eu precisava conhecer o texto de As Velhas. Me falou que me via fazendo a personagem Mariana. Eu procurei, busquei, encontrei li e me encantei. Chamei a atriz Jussara Mathias, para a parceria. O projeto bateu de porta em porta. Nunca dava certo. Eu queria alguém que tivesse a ver com nosso pensamento artístico. Depois de Poliparpo Quaresma, conheci Cobrinha e fiz a proposta dele dirigir. Em 15 minutos tínhamos uma equipe técnica. Andréa Elia foi a última a entrar, junto com Fernando Santana. Cobrinha, depois, não pode fazer e a gente caiu nas mãos de Marfuz.
Qual a importância que o espetáculo tem para você?
As Velhas mexe muito comigo. É muito atual. Fala de justiça social. Marfuz traz este homem animalizado, dentro da concepção dele. Traz uma peregrinação silenciosa, pra dentro. 
Como é para você trabalhar com Luiz Marfuz?
Esta concepção vista por Marfuz, me alegra, pois traz o teatro de dentro para fora, de parto natural, com cor, no limite da gente. É um sonho de consumo de todos os artistas da cidade. E a alma fica encharcada de criatividade. Luiz não tem interrogação, não tem dúvidas. E ao mesmo tempo, ele é como os sábios, que abrem os ouvidos. Marfuz é um homem de vários ouvidos. Estar com este mestre, com quem trabalhei em Policarpo Quaresma, é uma honra mais vez.
É um desafio para você, como atriz premiada?
Estou entregue, assim como todos do elenco. Na verdade, Luiz é muito inquieto. Ele mergulha em Beckett, aí sobe com Policarpo e volta a mergulhar no sertão abissal, sertão interior, em As Velhas. No espetáculo, a gente fala de várias formes, do amor, da liberdade, da cura, são tantas as fomes, as misérias, o sertanejo visto pelo avesso. O texto, em relação ao original, tem outra cara. O enxerto traz o texto para outro lugar. Mariana, eu não posso dizer que é um desafio único, pois qualquer personagem é um desafio. Mariana é um sonho antigo.
Como é o duelo de Mariana com a cigana Vina, interpretada por Andréa Elia?
É um duelo manchado de rancor, de amargura, de paixão. Mariana nutriu tanto este terror dentro dela e depois se vê obrigada a estender a mão para a solidariedade. As Velhas é um texto que vai do desejo ao ódio, do político ao familiar, da seca ao amor incondicional pelos filhos. 

Entrevista concedida para a assessoria de comunicação do espetáculo

Um comentário: